DANIEL RAMON ESCANCARA: A CLASSE MUSICAL ESTÁ DESVALORIZADA AO EXTREMO

O Blog "DE TUDO O MAIS" entrevistou o artista/músico Daniel Ramon e ele falou da carreira, do cenário musical e vida pessoal. Daniel está com 37 anos, é compositor desde os 9 anos de idade. Participou do festival Canta Nordeste em 1994, foi finalista do troféu Dodô & Osmar na categoria melhor música em 2008. E atualmente se divide entre ser contrabaixista e cantor.
 DE TUDO O MAIS: Sua vida anda agitada, não?
DANIEL RAMON: Queria eu essa agitação. Mas está agitada por motivos pessoais, não profissionais.
DTM: Como é ser músico hoje na Bahia, ou melhor, no Brasil?
DR: Humilhante. A classe está desvalorizada ao extremo.
DTM: Pode explicar?
Daniel Ramon: Finalista do carnaval 2008
DR: Existe um papo furado de empresário, muito conveniente, de que artista e músico são coisas diferentes. Isso desvalorizou muito ser músico. Hoje os artistas faturam milhões por ano, e muitos músicos não ganham nem 4 mil reais por mês. Além disso, a figura do músico está ausente dos cartazes, dos comerciais, das revistas de música, tudo agora é centralizado apenas nos vocalistas principais, os chamados artistas. Uma pena pra música brasileira, que se vê obrigada a olhar para bandas de verdade que ainda existem, como o Roupa Nova, o Skank, o Chiclete com Banana, que valorizam seus músicos, ao menos na imagem. Não há um exagero de divulgação em cima de um só artista. Pra mim músico faz a arte da música, logo é sim artista. Só que alguns mudaram o sentido da palavra "artista", colocando-a como sinônimo de "ídolo", "patrão" e "cantor". Ora, se o canto é unica arte feita no palco, pra que músicos?
DTM: Faz sentido. Mas essa palavra "artista" sempre foi sinônimo de famoso.
DR: A fama é consequência da preferência na divulgação. Se há oferta, há procura.
DTM: Continue, estou empolgado.
DR: O mais triste é ver que muitos músicos são conformados com isso. Não percebem que estão aceitando uma injustiça. O seu trabalho não é complementar. É fundamental. Eu vejo babacas postando na internet: "Eu tocando com artista tal" Ora, que idiota! Ele também não é um artista? Não, muitos instrumentistas não são merda nenhuma, desculpem a palavra. São esses imbecis que destroem por dentro nossa arte, com seu ostracismo arbitrário, corroendo toda esperança de uma liderança musical no cenário. Porque enquanto os empresários mandarem na nossa música e ganharem 99% do dinheiro, ela será essa bosta fedida que aí está. E as bandas estão acabando por um único motivo: Poder.
DTM: Mudando de assunto, cadê o sucesso de Daniel Ramon?
DR: Existem vários tipos de sucesso. O comprado, o real, o conquistado, o progressivo... Eu me considero numa escada que sobe. Não sei em que degrau vou parar. Mas continuarei subindo.
DTM: Você acompanha um artista que recentemente deixou uma banda. Não seria se submeter ao sistema?
DR: Todos estamos submissos ao sistema. O grupo que o acompanha é parceiro, todos são boas pessoas. É uma situação diferente. Mas de um modo em geral, a banda também foi atingida por essa onda irreversível de carreiras-solo. Eu mesmo assumo que tenho uma.
DTM: Não vemos você na TV.
DR: Isso não quer dizer que quem assiste está gostando. Sei de pessoas famosas que tem menos popularidade que um guarda de condomínio.
DTM: Ah, mas ajuda a divulgar mais não acha?
DR: Não é um espaço democrático (a TV). Seria mais justo se fosse. Hoje somos anunciantes. Quem quiser aparecer vai gastar o que não tem. Eu busco formas alternativas. A internet não me deu sucesso, mas me deu certeza que a música é querida.
DTM: Quais suas músicas mais queridas pelo público?
DR: Simbora ainda é a mais famosa. O que é uma pena. Porque tenho muitas outras melhores.
DTM: Quais?
DR: Longa Estrada, Menina Miragem, Me Beija, O Fogo, Serenata de Amor, só pra citar algumas. Essas com certeza, se tiverem chance na mídia convencional, atingirão muito mais pessoas que gostam.
DTM: Eu estou ouvindo Longa Estrada, realmente bonita, mas não foge muito das suas raízes?
DR: Que raízes? Minha primeira influência musical foi os Beatles. Depois Dodô e Osmar. Armandinho. Michael Jackson. De que raízes você fala?
DTM: O Axé?
DR: O termo já é uma contradição. Tem tanta raiz que preferiu a língua inglesa.
DTM: Sem dúvida. Adorei. Obrigado Ramon pela entrevista.
DR: Disponham. Essa vai pro blog? Podem colocar.
DTM: Hoje mesmo.

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